A corrupção representa um dos maiores desafios enfrentados pelas sociedades contemporâneas, especialmente quando se trata da administração pública. O combate a esse mal é essencial, mas levanta um dilema crítico: como aplicar a legislação de forma justa, sem inviabilizar as empresas e sem prejudicar os empregados que não têm qualquer envolvimento com atos de corrupção?
A legislação anticorrupção, especialmente no contexto brasileiro, busca responsabilizar tanto pessoas físicas quanto jurídicas. O direito administrativo sancionador possui um caráter retributivo que se assemelha ao direito penal. Quando uma infração ocorre, aplica-se uma sanção que deve ser razoável e proporcional ao ato praticado. No entanto, a responsabilidade penal recai exclusivamente sobre indivíduos, enquanto as empresas enfrentam sanções administrativas, como multas e restrições.
Um exemplo emblemático é a Operação Lava Jato, que não apenas expôs a corrupção em alta escala, mas também resultou em severas penalidades para empresas e seus dirigentes. Embora as punições sejam necessárias para desestimular práticas corruptas, o impacto econômico dessas sanções frequentemente atinge trabalhadores inocentes.
É crucial reconhecer que muitos colaboradores das empresas afetadas são inocentes e dependem de seus empregos para sustentar suas famílias. Muitas vezes, esses trabalhadores não têm qualquer relação com as decisões tomadas nos altos escalões, mas são os que mais sofrem as consequências das sanções, como demissões em massa e fechamento de unidades.
Apesar de todo o esforço para desmantelar organizações criminosas que institucionalizaram a corrupção no país, o saldo da Operação Lava Jato foi a perda de mais de 4 milhões de postos de trabalho, segundo o Dieese.
Diante disso, é crucial ponderar as ações de responsabilização para evitar que o remédio seja pior que a doença, desencadeando um efeito dominó.
Efeito esse capaz de gerar uma crise não apenas nas empresas, mas também na sociedade, aumentando o desemprego e a instabilidade econômica. Portanto, a pergunta que se impõe é: como garantir a responsabilização das empresas e dos indivíduos envolvidos em atos corruptos sem comprometer a vida de milhares de trabalhadores?
A aplicação da legislação anticorrupção deve ser um ato de justiça, não apenas contra os responsáveis, mas também em favor daqueles que não têm culpa nas ações dos corruptos. O desafio está em encontrar um equilíbrio que proteja os direitos e a dignidade dos trabalhadores, enquanto se combate efetivamente a corrupção. A solução exige um compromisso coletivo de governos, empresas e sociedade civil para construir um sistema que não apenas responsabilize, mas que também preserve a vida e a dignidade dos inocentes.